O alto preço da perfeição Parte 1
Aprendiz de bagunceira


Para onde estamos indo?


Sentar na última fila.
Ué, que estranho. Também costumo ficar nas carteiras situadas no fundo da sala.


Sinal de que ambas temos muito bom-gosto. Quando eu falo que a gente se completa não é à toa.
Estou um pouco confusa. Escolho ficar bem atrás na esperança de que a professora não me veja, não se lembre de mim e, principalmente, não me faça nenhuma pergunta durante a aula. Mas, e você?


Por um motivo bem diferente do seu. Frequento a última fileira da sala porque lá se encontram os alunos mais legais. A galera que joga no celular, conversa sobre os assuntos mais variados e inventa mil maneiras divertidas de passar o tempo das aulas sem dormir.
Jura? Fico tão tensa ao longo do horário escolar que nunca percebi nada disso. Só uma curiosidade: você consegue aprender alguma coisa assim?


Várias. Na aula de história de ontem, aprendi como postar fotos para atrair mais seguidores no Instagram. Já na de matemática, assisti aos memes da hora, para poder imitar todo mundo. E, finalizando, na aula de artes plásticas, enquanto todos aprendiam a modelar com massa, construí meu primeiro estilingue, testado com sucesso na hora do recreio, onde acertei o nariz e as orelhas de vários colegas da turma mais avançada. Um desafio e tanto. Tenho até gostado até de ir para o colégio nos últimos tempos.
É interessante como estamos no mesmo lugar e com experiências tão diferentes.


Não é o máximo? Hoje ainda vai ser mais especial. Você vai aprender como se libertar dessa postura de Princesinha do Pedaço. Como detonar seu uniforme da cabeça aos pés em menos de meia hora.
Como assim? Além das minhas atitudes, ainda tenho que mudar meu modo de vestir? Eu só queria ficar quietinha no meu canto.


Kimizinha, desencana. Quero apenas abrir seus olhos para o mundo aqui fora. Até aceito alguém chegar na escola com o uniforme limpo e passado, o cabelo preso numa fivelinha sem um fio fora do lugar, as meias brancas esticadinhas e os sapatos brilhando, como você faz.
Então qual é o problema?


O problema é sair da escola, no final do dia, da mesma forma: impecável. Parece até a mamãe quando era criança. Todo mundo se acabando de brincar e correr na hora do recreio e ela sentada com as perninhas cruzadas assistindo às brincadeiras dos outros. Você pode agir como quiser, mas antes tem que conhecer o outro lado. Preparada?
Não. Mas como gosto de andar em sua companhia, não me restam muitas opções. O que devo fazer?


É assim que se fala, maninha. Vem comigo que vou te mostrar.
Continua em uma próxima conversinha!