Sem recreio e sem vergonha (1/3)




Vem, Kimizinha! Ninguém está vendo a gente. Olhe bem à sua volta. É hora do recreio. Foram todos lá pro pátio brincar. A diferença é que vamos nos divertir aqui dentro da sala. Larga esse medo e se joga!


Não sei, não. Algo me diz que isso é muito errado. Aquele friozinho na barriga já veio me avisar.
Olha só, eu estou aqui. O que de mal poderia acontecer?


Tudo? Bem, vou confiar em você. O que vamos fazer?
Beleza! Pra começar, subiremos na carteira.


Ai, ai, ai, como assim?
Acompanhe meus movimentos graciosos: suba na cadeira, fique em pé. Em seguida, suba na mesa. Mamãozinho com açúcar. Eu seguro sua mão.


Está bem. Pronto.
Agora é minha vez. Como sou atleta, vou escalar num salto só. Quer ver?


Na verdade, prefiro… Oh! Que estrondo é esse?
Calmaê, princesa. Nunca assistiu às Olimpíadas? Temos mais de uma chance para demonstrar o nível de excelência de nossas habilidades. Vou tentar mais uma vez. Um, dois, …

Oi, Diretora! E aí? Tudo em cima? Nada? Ah, sim, em cima só a gente. Claro que vamos descer e acompanhá-la até seu gabinete. Até daqui a pouco.

Kim, pode abrir os olhos.


A Diretora me viu? Que vergonha!
Lamento informar que sim. Você fechou os olhos e não a viu. Porém a fiscal da ordem estava com as butucas bem abertas. Nós duas fomos convidadas a comparecer à Diretoria. Maneiro, né?


Maneiro? Convidadas? O nervosismo está embaçando meus pensamentos. Acabamos de ser flagradas contrariando as regras da escola e fomos intimadas pela Diretora para receber uma reprimenda formal. O que essa situação terrível tem de legal?
Ficaremos de castigo no meio do caminho de todas as turmas do colégio de volta às suas salas. Moral da história: seremos vistas por todo mundo. Vamos servir de exemplo, sacou?


Pare de me explicar. Entendi tudo. Seremos um exemplo de como não se comportar. Onde vou me esconder? Que vergonha!
Fique tranquila. Representarei a família. Que momento fantástico! Com sorte, publicarão uma matéria no Jornalzinho Acadêmico sobre nós. Deixa que eu falo se tiver entrevista.


Fique tranquila. Estarei chorando e tremendo tanto que não sairá uma palavra. Não costumo falar nem quando as coisas vão bem, quanto mais agora. Eu quero sumir.
Você está exagerando. Pense comigo: ninguém achará que a responsabilidade é sua. Afinal, é de conhecimento público que a idealizadora de feitos inovadores e desportivos da família sou euzinha.


Mas quando concordei em participar, assumi a responsabilidade pelos meus atos. Sou tão culpada como você.
Gostei de ver. É assim que se fala. A partir de agora, somos parceiras no crime. Para, para. Não posso ver você triste. Continue confiando em mim. Tenho um plano. E ele vai ajudá-la a sair dessa e dar a volta por cima nessa timidez de uma vez por todas.


Que milagre será esse?
Coloque isso no rosto. Explicarei o resto da estratégia no caminho.

Continua na próxima conversinha!